Clio é a musa da história e da criatividade, aquela que divulga e celebra as realizações. É madrinha das relações políticas tanto entre homens quanto entre nações traz na mão direita uma trombeta e, na esquerda, um livro. Já o 21 refere-se ao nosso século, como um referencial temporal.

sábado, 21 de março de 2020

ALÉM DO COVID-19 - Um recorte Histórico



Uma breve história de superação!
     
A princípio, é importante deixar claro que, vírus, bactérias e fungos (os maiores causadores de doenças entre os seres humanos) não precisaram ser criados em laboratório, para ser tornarem altamente letais à espécie humana.

A maioria das doenças do mundo contemporâneo já existiam desde os primórdios dos tempos, porém a velocidade de contágio e os ambientes propícios de contaminação e propagação têm sido ampliados desde a descoberta da agricultura e pecuária no Neolítico, saindo de uma P.A. para uma P.G., progressivamente aos avanços das aglomerações humanas.

Podemos observar que, quanto mais isoladas eram as comunidades, menor eram as possibilidades doenças se alastrarem. Constata-se assim que, quando uma doença infectava um grupo de indivíduos, sendo letal para parte dessa comunidade ou extinguindo-a completamente, dificilmente infectava-se outros povoados.

 
Crânio humano asiático da Idade do Bronze (entre 3.300 a.C. e 700 a.C.) da cultura Yamnaya, que apresentava a bactéria 'Y. pestis', causadora da peste negra Rasmussen et al./Cell 2015/Divulgação – in: https://veja.abril.com.br/ciencia/peste-ataca-humanos-desde-a-pre-historia-diz-estudo/

Na medida em que povoados alçaram a complexidade de cidades, a estocagem de grãos e cereais atraíram roedores, já com o desenvolvimento da pecuária, os rebanhos de suínos, bovinos e ovinos aproximaram humanos de outros animais, tornando possível que as doenças de outros animais se adaptassem e contaminassem grupos humanos.
Durante a Antiguidade Egito, Mesopotâmia, Hebreus, China (…) desenvolveram sistemas de saúde para conter a pior ameaça de seus impérios teocráticos, ou seja, as doenças que infestavam vilas inteiras.
O Papiro Ebers é um dos tratados médicos mais antigos e importantes que se conhece. Foi escrito no Antigo Egito e é datado de aproximadamente 1550 a.C.
        A vida em sociedade é uma marca de nossa sobrevivência no planeta, não podemos anular a necessidade que temos de “viver em rebanho” por isso as doenças que infectavam grupos inteiros tornaram-se problemas racionais para Greco-romanos (antiguidade Clássica), assim a sistematização dos estudos medicinais transcendeu a fé e deu um salto qualitativo nas polis.
Veja o que já se investigava na Grécia:

“foi em Hipócrates (460 a.C) que os conceitos de saúde e doença na Grécia tomaram um teor científico. Considerado o pai da Medicina, substituiu a mitologia, baseada na cura pelo poder dos deuses pela observação clínica de seus pacientes. Foi idealizador de um modelo ético e humanista da prática médica. Criou métodos de diagnóstico, baseados na inquirição e no raciocínio. As obras éticas e o juramento do médico, usados até hoje, fazem parte do chamado Corpo Hipocrático (Corpus Hippocraticum). Dentre suas obras mais famosas, destacam-se: Sobre as Epidemias (descreve doenças como pneumonia, tuberculose e malária); Sobre Ares, Águas e Lugares (tratado sobre saúde pública e geografia médica); Sobre a Dieta (alerta para a importância de uma dieta equilibrada e saudável) e Aforismos
Miranda, Jair Junio. SAÚDE E DOENÇA NA ANTIGUIDADE: A INFLUÊNCIA DO CONCEITO GRECO-ROMANO SOBRE O JUDAÍSMO BÍBLICO E O NOVO TESTAMENTO

Já na Idade Média, os eventos históricos nos levam a conhecer a Peste Negra, que sem dúvida é a mais conhecida Pandemia a História.

A peste negra teve relação direta com os eventos mercantis da época, afinal o crescimento do fluxo de mercadorias e pessoas da Europa para a Ásia acabou por disseminar uma doença endêmica do extremo Oriente.
Matando 1/3 da população europeia, essa doença também se tornou famosa no imaginário das Américas, local da expansão europeia.
Já nos séculos XVIII e XIX (entre os anos 1701 a 1900), a tuberculose foi responsável pela morte de aproximadamente 1 bilhão de seres humanos. Antes da descoberta do bacilo de Koch, a taxa anual média de mortalidade era de 7 milhões de pessoas. No Brasil e no mundo, outras doenças também se destacaram como as doenças letais:
CÓLERA
Centenas de milhares de mortos – 1817 a 1824
·         História – Conhecida desde a Antiguidade, teve sua primeira epidemia global em 1817. Desde então, o vibrião colérico (Vibrio cholerae) sofreu diversas mutações, causando novos ciclos epidêmicos de tempos em tempos
·         Contaminação – Por meio de água ou alimentos contaminados
·         Sintomas – A bactéria se multiplica no intestino e elimina uma toxina que provoca diarréia intensa
·         Tratamento – À base de antibióticos. A vacina disponível é de baixa eficácia (50% de imunização)

VARÍOLA - 300 milhões de mortos – 1896 a 1980
·         História – A doença atormentou a humanidade por mais de 3 000 anos. Até figurões como o faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da França tiveram a temida “bixiga”. A vacina foi descoberta em 1796
·         Contaminação – O Orthopoxvírus variolae era transmitido de pessoa para pessoa, geralmente por meio das vias respiratórias
·         Sintomas – Febre, seguida de erupções na garganta, na boca e no rosto. Posteriormente, pústulas que podiam deixar cicatrizes no corpo
·         Tratamento – Erradicada do planeta desde 1980, após campanha de vacinação em massa

Percebe-se que, durante o século XIX, já temos um mudo revolucionado pela indústria e pelos princípios liberais da Revolução Francesa, daí o dinamismo econômico também se refletiu no dinamismo epidemiológicos. Além do fluxo de mercadorias e pessoas de maneira global, as péssimas condições de vida das classes trabalhadoras são indicadores aterrorizantes de uma mortandade até então nunca vista.
Os mundos econômicos ficaram cada vez mais distantes e os pobres tornaram-se a maior vítima das doenças de massas. Contudo os trabalhadores eram fundamentais para a economia, logo os governos e setores privados necessitavam superar tais problemas, concomitante aos avanços na biomedicina inaugurando assim a era das vacinas, porém, mesmo com o avanço das tecnologias, no início do século XX, não se conseguiu impedir a pandemia mais letal da história contemporânea: A Gripe Espanhola
A gripe espanhola – como ficou conhecida devido ao grande número de mortos na Espanha – apareceu em duas ondas diferentes durante 1918, uma em fevereiro, bastante contagiosa, porém causando apenas três dias de febre e mal-estar. Já na segunda, em agosto, tornou-se mortal. Enquanto a primeira onda de gripe atingiu especialmente os Estados Unidos e a Europa, a segunda devastou o mundo inteiro: também caíram doentes as populações da Índia, Sudeste Asiático, Japão, China e Américas Central e do Sul.
No Brasil, estima-se que entre outubro e dezembro de 1918, período oficialmente reconhecido como pandêmico, 65% da população adoeceu. Só no Rio de Janeiro, foram registradas aproximadamente 14.348 mortes.  Em São Paulo, outras 2.000 pessoas morreram.
Os números de mortos em todo o mundo durante a pandemia de gripe em 1918-1919 variam entre 20 e 40 milhões. Para se ter uma ideia nem a Primeira Guerra Mundial matou tanto, pois cerca de 9 milhões e 200 mil pessoas morreram nos campos de batalha da Primeira Grande Guerra (1914-1918).
Chegando em nossos dias, os surtos consecutivos de H1N1, assolando o mundo desde a década de 1990 seguindo aos anos 2000... Os mais recentes foram: Gripe aviária (auge em 2003) e a Gripe suína (auge em 2009). O influenza espanta pela velocidade de contágio, no caso da Gripe Espanhola, por exemplo, para cada 1000 infectados 25 foram a óbito. Outras doenças são mais letais, como a raiva que mata 90% dos infectados porém a forma de contaminação depende da mordida de um animal doente e isso faz da transmissão algo muito lento, já no caso da H1N1, a letalidade é baixa, mas por contaminar milhões de pessoas rapidamente, a percentagem de letalidade sobe e em números consegue superar as demais doenças.
No final do ano de 2019 uma nova ameaça teve início. Originada na China, na cidade de Huam, proveniente de um mercado de animais silvestres, o surto espalhou-se pela cidade, logo tomou toda a China. Essa nova ameaça é uma variante da Gripe, porém causada por um vírus diferente do Influenza, esse é o Coronavírus – Covid-19 - (uma grande família viral que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais), que já havia infectado e posto em alerta diversas partes do mundo, em especial os grandes blocos econômicos.
Algumas variações do vírus Covid-19 causaram síndromes respiratórias graves, como a síndrome respiratória aguda grave que ficou conhecida pela sigla SARS da síndrome em inglês “Severe Acute Respiratory Syndrome”. SARS é causada pelo coronavírus associado à SARS (SARS-CoV), sendo os primeiros relatos na China em 2002. O SARS-CoV se disseminou rapidamente para mais de doze países na América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia, infectando mais de 8.000 pessoas e causando aproximadamente 800 mortes.
Em 2012, foi isolado outro novo coronavírus, distinto daquele que causou a SARS. Esse novo vírus, inicialmente na Arábia Saudita e, posteriormente, em outros países do Oriente Médio, na Europa e na África. Todos os casos identificados fora da Península Arábica tinham histórico de viagem ou contato recente com viajantes procedentes de países do Oriente Médio – Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Jordânia, por isso, devido à localização dos casos, a doença passou a ser designada como síndrome respiratória do Oriente Médio, cuja sigla é MERS, do inglês “Middle East Respiratory Syndrome” e o novo vírus nomeado coronavírus associado à MERS (MERS-CoV).
Já no inicio de 2020 o novo Coronavírus (Covid19), tomou dimensões de Pandemia. Espalhando pela Ásia, Europa, América do Norte e América do Sul. O contágio tem sido rápido e os óbitos na Itália chegou ao assustador número de 3.405 em menos de 04 meses. Uma força tarefa dos maiores laboratórios do mundo vem trabalhando para descobrir uma vacina, enquanto medidas sensatas de quarentena buscam isolar ao máximo as pessoas para dificultar o contágio. Em todos continentes a economia liberal está reajustando-se com quedas de bolsa de valores, queda de juros, trabalhadores em casa, escolas fechadas, comércio paralisado, cidades isoladas, e etc. 
Nessa atmosfera de guerra ou mundo apocalítico, a conscientização, a solidariedade, a necessidade de um Estado voltado para o bem-estar da sociedade e novos arranjos de trabalhos on-line (o mundo virtual como nova alternativa) desnudam antigos e novos parâmetros. A mortandade parece ser crescente, e nesses tempos de incertezas a esperança no próprio ser humano é o que pode nos resgatar e mostrar caminhos melhores a serem seguidos.
A História continua...

 Autor: Claudney S. dos Santos

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