O dia do índio, antes de mais nada, é o
dia de reflexão. Um dia de lembrar-se da história sem perder de vista a importância
dos embates atuais, das constantes agressões e injustiças praticadas contra a etnia,
a qual somos, imensamente herdeiros.
Como morador da região cacaueira, no sul
da Bahia, local onde, em tempos remotos foi Instalada a Capitania de São Jorge
dos Ilhéus, venho trazer a reflexão a cerca do primeiro grande massacre contra aqueles
que aqui viviam – os Tupiniquim.
O ano era de 1559, e o massacre foi chamado
de “batalha dos nadadores”. Esse fato aconteceu numa
praia, denominada Cururupe, hoje atração turística.
O Padre Manoel da Nóbrega
foi testemunha de tudo e numa das suas inúmeras cartas narra com detalhes o
episódio:
A luta começou com a morte
de um índio. O assassino ficou impune. Os índios, por vingança, mataram três
brancos no caminho de Ilhéus a Porto Seguro. Os colonos amedrontados
abandonaram as fazendas e recolheram-se na sede da Capitania. Diante de tanta
covardia os índios resolveram cercar a Vila. Os moradores estavam perdidos. Só
havia uma esperança: pedir auxílio a Mem de Sá, em Salvador. Um emissário saiu
às escondidas e rumou para a capital.
Mem de Sá
ordenou a prontidão, imediatamente, e ele próprio quis comandar a repressão.
Chegando ao
Porto de Ilhéus, ficou o Governador a bordo enquanto recebia notícias da Vila.
A situação era a pior possível. A população alimentava-se apenas de laranjas
dos quintais. A fome já estava presente em todos os lares da Vila de São
Jorge... À meia noite houve o desembarque. É o próprio Mem de Sá quem diz:
“...na
noite que entrei nos Ilhéus fui a pé dar em uma aldeia que estava a sete léguas
da Vila em um alto pequeno... a ante manhã duas horas dei n’aldeia e a destruí
e matei todos os que quiseram resistir, e à vinda vim queimando e destruindo
todas as aldeias que ficaram atrás...”
Quando souberam dos
desastres de suas aldeias, os índios saíram fustigando à retaguarda do grupo do
Governador. Vasco Rodrigues Caldas, braço direito de Mem de Sá, emboscou-se na
mata, acometendo os índios pelas costas. Os nativos, a fim de se safarem
atiraram-se ao mar. Os “nativos catequisados, aliados de Vasco Rodrigues,
exímios nadadores, foram ao encalço. A luta travou-se a uma légua da costa. Os
tupiniquins foram quase todos mortos mais por asfixia que propriamente pelas
armas. “Naquela luta de peixes vorazes, da qual não escapou nenhum inimigo”
como diz Pedro Calmon.
Os Tupiniquim que
conseguiram se salvar do cerco ainda atacaram uma roça que pertencia a certo
André Gavião e mataram oito escravos africanos e, logo a seguir, sofreram novo
ataque de Rodrigues Caldas. Definitivamente derrotados, pediram paz e
submeteram-se ao jugo português.
O desfecho foi trágico para
os donos da terra.
Quanto aos invasores, o lucro era um negócio
ainda inconclusivo, no entanto, a mão de obra crescia, com o fim da guerra, e
as sesmarias (na qual o próprio governador era um dos maiores sesmeiros) atraia
mais investidores... Contudo a resistência apenas havia começado... Ilhéus iria
ser palco de novas guerras!
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