A imagem de d. Pedro I levantando a espadanas margens do Ipiranga é uma das representações mais populares da história do Brasil.
Há muitas
décadas ela figura em livros didáticos e ilustra páginas de revistas e jornais
por ocasião das comemorações da Independência. Diante delatemos a impressão de
sermos testemunhas do evento histórico, aceito naturalmente como o “marco zero”
da fundação da nação. No entanto, essa imagem é fruto da imaginação de um
artista que nem mesmo tinha nascido quando o episódio ocorreu. Historiadores
têm demonstrado que foram necessárias muitas décadas para que o hoje famoso
episódio do “Grito do Ipiranga” adquirisse status que ele possui no contexto
das narrativas sobre a Independência. Como demonstra a pesquisadora Cecília
Helena Salles de Oliveira em seu estudo sobre o tema, a data de 7 de setembro
não foi considerada, de início, particularmente relevante como marco simbólico
da formação da nação, nem pela imprensa, nem pelo próprio d. Pedro. Em carta
dirigida aos paulistas, no dia seguinte ao episódio ocorrido às margens do
Ipiranga, o príncipe fala da necessidade urgente de retornar ao Rio de Janeiro
em função das notícias recebidas de Portugal. Na longa carta, não há qualquer
referência ao “grito”. a Independência do Brasil não estava inteiramente
consumada. Dependia também de negociações políticas. Também em carta dirigida
ao seu pai a 22 de setembro, d. Pedro não faz referência ao evento. Da mesma
forma, os jornais de época, que ensaiaram as primeiras narrativas sobre a
Independência do Brasil, não traziam qualquer menção à data de 7 de setembro. O
Correio Braziliense, por exemplo, publicou uma notícia declarando a data de 1º
de agosto como marco da emancipação. Era a data em que o príncipe enviou o Manifesto
às Províncias do Brasil, no qual se desobrigava de obedecer a ordens das Cortes
de Lisboa. O redator do jornal Regulador Brasileiro, por sua vez, apontaria a
data de 12 de outubro, na qual ocorreu a aclamação de d. Pedro I como Imperador
do Brasil, como o verdadeiro marco da criação da jovem nação. Outras datas,
como o 9 de janeiro, dia do “Fico”, em que d. Pedro I recusou-se a embarcar
para Portugal desobedecendo as ordens dadas pelas Cortes de Lisboa, ou a de 1º
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